nada mais assustador que a ignorância em acção

talvez esse medo justifique a minha inércia.

"Cidades como Cartago, Alexandria, Bizâncio, Constantinopla e Istambul apresentam-se como sendo as primeiras com importância a nível civilizacional que estreitaram esta relação com a água".

com os pêlos do pescoço eriçados penso "esta imbecil teve 18 com erros destes?" o desespero imobiliza-me, o apatia de não saber por onde pegar no resto da minha própria tese, para que é que me dou ao trabalho? há pessoas que fazem e dizem esta merda e safam-se. com 18 valores.

admiravelmente isso não me dá alento, por duas razões: primeiro porque deixo de ter um termo de comparação real. sim, alguém fez uma tese no mesmo tema que eu, mas resultou neste lixo, fê-la entre o pequeno almoço de cereais com fibra e a primeira evacuação do dia. em segundo lugar porque me apercebo de que apesar de ignorante na matéria em que diz ser mestre, ela tem bastante maior capacidade de trabalho que eu. isso nota-se pela excelente organização dos capítulos e dos sub-capítulos com números e letras e cores e sons e tudo. não tenho hipóteses quando comparado com pessoas que sabem trabalhar. no campo dos inúteis até sou uma pessoa medianamente interessante.

início constante de um nada

do meu lado esquerdo amontoam-se ameijoas mortas. do meu lado direito estás tu a sorver avidamente umas cascas vazias e a sorrir como se finalmente tivesses atingido o topo da vida, e esse nirvana é apenas isso, sorver o molho de cascas de ameijoas com coentros e deitá-las num balde de plástico Olá que aqui serve de lixo. a minha imperial está a ter um orgasmo neste copo baço de gelo estriado por estradas brilhantes de gotas que descem até encontrar os meus dedos. a tua barriga dourada está de anúncio para mulheres de 30 anos, parece que engoliste uma bola de praia. o sal no meu cabelo faz-me comichão mas fica bonito, fica bem com a cor do meu peito salgado e dos meus calções de ganga que me imploras para pôr a lavar há umas semanas. a menina do balcão fez-me olhinhos. ah fez? é porque viu a minha barriga, já sabes, babamo-nos por papás. pois, foi o que eu pensei. pensei também que adoro o barulho das havaianas a bater no azulejo branco de uma tasca de aldeia à beira mar ao fim da tarde. adoro saber-te por perto sem te ver, numa terra desconhecida, afastar-me e voltar para ver-te falar com indígenas. adoro ver-te falar ao longe, chego a demorar o meu regresso para apreciar. fazes festas na barriga com a ponta dos dedos. trago um gelado para o henrique, ele vai adorar, o líquido amniótico a cheirar a Epá. oh, queria pastilha de morango, isto é o quê? não sei, cor de laranja, realmente é uma incógnita. parvo, eu não gosto de laranja, vai pedir de morango. e eu vou. o verão é um fim de tarde fervente, um início de noite combinada, uma paternidade emergente, uma nudez descomplexada. regula-me o humor para o modo de festa, de início constante de alguma coisa que nunca acaba, o sol é realmente o meu Epá com pastilha de laranja. desculpa, de morango. outra decisão complexa é a que horas ir ao supermercado que fecha às 20, quando o sol ainda brilha alto. esquece, vamos comer uma pizza a Pedralva para o iniciar nos prazeres do campo. a cerveja é sem álcool, mas as pernas com areia.