quatro a zero

estávamos na sala, eu no chão, a Sofia estirada no sofá, com um copo de Periquita, de saia e pernas abertas. o Pedro chegou da cozinha com as garrafas de vinho do porto e whisky, o que fez a Sofia dar pinotes de uma alegria contagiante como só dá na companhia de terceiros e acerca de álcool, mas manteve-se no sofá.

- estou a ver-te as cuecas - disse-lhe o Pedro, de ângulo privilegiado.
- não tenho cuecas!

o Pedro riu-se muito, entusiasmado com intimidade libertina que a minha namorada lhe dirigia. eu também senti um kinky chill, cheguei a pensar que ela não tinha de facto cuecas e que o Pedro lhe estava a ver a periquita, algo que já me era rotineiramente invisível e se tornou naquele momento idolatrável pela quebra de exclusividade.

a Juliana que recolhia os pratos na sala de jantar também se riu, muito alto, correu para a sala e disse que também queria ver, mostra, mostra, a Sofia mostrou qualquer coisa que eu não vi e largaram-se as duas a rir, com a Juliana a apalpar-lhe as pernas e a Sofia a soltar guinchos e risos de abuso permitido. wow! olhei para o Pedro. um momento pleno de potencial, sondámo-nos mutuamente por alguma ideia para não deixar morrer a situação.

- vá, vão lá as duas para o quarto, eu e o Pedro ficamos aqui a beber copos.
- não, eu quero é ir aqui com o nosso "casal amigo" e tu ficas aqui a beber copos sozinho.
- ahahah
- ahahahaha
- ehehehehe
- ahahaha
- tudo bem, também já estou velho para vos acompanhar, só ia fazer má figura.

o Pedro sentou-se perto das duas e a Sofia fingiu (fingiu?) uma tontura de paixão, deixou-se cair para cima dele, ele agarrou-a completamente atrapalhado pelo toque incontornável nas mamas enormes da minha namorada. a Juliana levantou-se.
- não Zé, o Pedro está mais interessado na tua namorada e vice-versa, parece que eu vou ter que ficar aqui contigo e vão eles os dois lá para dentro. veremos quem se diverte mais, confio em ti!

inacreditável, eu e o Pedro completamente ultrapassados pela libido licorosa das miúdas, parecíamos dois putos virgens, cada frase e gesto de qualquer uma delas só encontrava em nós risos imbecis de testosterona tímida. a Juliana, já o tinha comentado em excesso com a Sofia, lembra-me a razão porque tenho saudades de ser solteiro, é por gostar de me deixar conduzir pela tesão, sem coração. fantasiei muitas vezes com olhos verdes a ver-me de cima, com o cabelo escorrido todo despenteado e a pele morena a envergonhar o meu bronze. a Sofia, já o tinha ouvido do Pedro, é conservadoramente provocadora. e isso é possível Pedro? sim.

mas agora passava-se qualquer coisa fora do nosso guião. essa tarde tinha sido esclarecedora quanto ao padrão de intimidade estabelecido. nenhum de nós o definiria sozinho, mas os subconscientes destaparam-se uns aos outros na medida da sua concordância e exponenciaram-se além do tabu, a esta hora já desbravávamos terreno desconhecido, como animais estúpidos que em vez de fugir, correm maravilhados para um fogo incontrolável.

essa tarde.

atravessávamos uma serra do Algarve, um calor fervente dentro do carro de janelas abertas, a sinuosidade e demora do percurso foi-nos deixando uma noção de isolamento muito vincada, estaríamos mesmo a descobrir uma zona inexplorada do país se viéssemos a alcatroar a estrada. o primeiro frisson foi a natureza a chamar, por todos. virei por uma estrada de terra e encostei pouco depois perto de uns chaparros.

- vi numa reportagem que esta zona tem algumas comunidades de freaks alemães, completamente isolados e hostis para os visitantes, uns mini sudetas.
- ai não digas isso! não me apetece nada ter que fugir com as cuecas nos tornozelos!
- hhmm.. não é uma má contrapartida se tivermos que apanhar uns tabefes de uns freaks, ver-te de rabo ao léu.
- vejo o rabo dela todos os dias - disse-me o Pedro - apanha tu os tabefes sozinho.

fizemos todos xixi na savana, a cerca de 5 metros uns dos outros, mantendo contacto visual e conversando sobre a actualidade política, a vida dos famosos, o estado da arte, da arte. a Sofia perguntou, enquanto apertava os calções, se não queríamos comer, e embora não tivesse fome conheço-a suficientemente bem para não arriscar enfiar-me num carro com ela tendo-lhe recusado alimento.

- não há aqui um sítio mais decente para nos sentarmos, sem ser aqui ao pé do urinólium?
- acho que ali em baixo há um rio, estou a ouvir água.

tive uma ideia, mas ninguém tinha o fato de banho vestido por baixo da roupa, estavam nas malas, que estavam na bagageira, que estava atulhada de merdas inúteis que não iríamos certamente usar em 4 dias. trouxe só a comida e fomos descendo até à margem de um riacho escondido do mundo mas exposto ao sol. idílico. depois das sandochas e dois litros de água já me apetecia mijar outra vez.

- vou à água.
- mas tu tens fato de banho?
- vou de cuecas, vens Pedro?
- e nós não podemos ir? - a Sofia, sempre chica esperta, sempre de pito aos saltos em frente aos outros, à espera de uma desculpa para mostrar o seu sutiã tensionado e ver a minha reacção.
- podem - eu, sempre a querer exibi-la. acho que a alegria da pobreza está nesta grande riqueza de dar e ficar contente.

aquilo que era uma provocação da Sofia foi aproveitado pela Juliana que tirou a t-shirt larga de forma automática, ainda estávamos todos vestidos e ela com as suas perky tits de fora. que tits! o Pedro fez aquela sua expressão de "a minha namorada está despir-se em frente aos meus amigos", eu e a Sofia demos uma gargalhada e o Pedro, conformando-se, contra-atacou com um strip integral e correu para o rio exibindo o rabo peludo, obrigando-me a mim e à minha namorada a completar o ramalhete de strips. elas ficaram de cuecas, que a água tratou de ridicularizar. entrar foi fácil e divertido, sair da água mantendo o decoro foi mais complicado para mim e para o Pedro.

essa noite.

num momento definidor, a Sofia agarrou o Pedro pela cintura e levou-o para um dos quartos, foram em risos eufóricos e desapareceram no corredor a olhar para nós "estamos mesmo a fazer isto!". eu fiquei numa situação constrangedora com a Juliana, que longe da Sofia perdeu o élan da depravação de forma automática. tentei ler-lhe o pensamento e só me ocorreu que a sua moral estivesse a criticá-la, o pânico de estar ali comigo e não ter a certeza do que eu esperava dela. riu-se para mim, o que foi um alívio.

- então Zé? e nós? vamos espreitá-los ou vamos encorná-los de volta?
- bom, se calhar devíamos espreitá-los para termos a certeza de que não vamos encorná-los só de ida.
- ahah, vamos pelo menos ver para que quarto foram.

deu-me a mão, acho que nunca tinha dado a mão à Juliana, foi suficientemente íntimo para sentir uma erecção a despontar no sentido descendente dos calções. aproximámo-nos do quarto da direita, estavam ali, ouvimos beijos sonoros, roupa remexida, um fecho éclair (wtf?), risos curtos e lambidos. tive um calafrio, a minha namorada estava aos beijos com o meu amigo, ele estava seguramente a brincar com as copas E, e ela com a pila dele (não sei a copa da pila do Pedro). a Juliana olhou para mim escandalizada e beijou-me a cara, "também quero" segredou-me ao ouvido.

passado 1 minuto estávamos a deitar-nos semi-nus, semi-trapalhões, colados pela boca, ela cheirava a álcool e a canela. "que corpo, meu deus". deus a existir seria o máximo responsável pelo seguinte martírio previsível. ela não me tocava em nenhum ponto digno de registo, eu ia tentando marcar um ritmo de apalpanço que claramente não estava ser seguido por ela. a minha pila foi percebendo isto e deixou de estar prestes a rasgar-me as cuecas para ficar em modo de alheira de caça. avancei para a minha área de expertise. como diz a Nigella, com convidados façam sempre receitas que têm a certeza que saem bem e fazem sucesso. a minha cara próxima das cuecas dela enquanto estas desciam foi o ponto alto da noite, o meu último momento de êxtase, todos os meus sentidos apurados, os passarinhos a cantar. o ponto baixo foi ela dar uma cabeçada na cabeceira de ferro forjado, e morreu tudo, clima, tesão, esperança. tive que me rir.

- estás bem?
- não... aii! que estupidez. desculpa. acho que é melhor... bem...
- não faz mal, também não estava a perceber bem se queremos mesmo fazer isto.
- pois, nem eu.

eu queria, caralho! ficámos calados um bocado, nus, debaixo dos lençóis, fiquei inadvertidamente a reconfortar a minha pila de forma explícita, só mais tarde me apercebi disto. o som da cama do quarto deles estava a ficar mais claro e ritmado, o que agravou o ambiente. perguntei-lhe:

- está a fazer-te impressão?
- não, nenhuma. nem sei explicar porquê. a ti está?
- não sei. só me está a fazer impressão que não estejamos a fazer o mesmo.
- eu acho que não tenho ciúmes da Sofia, é minha amiga, adoro-a, acho que o sentimento de partilha com a Sofia é dos elementos mais excitantes desta situação, para mim. foi isso que gostei na ideia de estar contigo, tem mais a ver com ela.
- olha que fixe..
- mas isto não é mau Zé. gosto de ti também, gosto de vocês os dois, mas tenho uma relação profunda com a Sofia. tu és homem, olho para ti de outra maneira, mais física até.
- e onde é que o Pedro entra nisso?
- não é suposto entrar. ele dá-me raiva ultimamente, acho que queria partilhar isto com vocês os dois e cagar nele. estava a precisar disso. na prática ele é o único que não me excita nesta situação. excita-me só por conveniência, porque é necessário para eu sentir a posição da Sofia.
- hhmm.. não sei o que diga. não sabia que estavas chateada com ele (ou que eras lésbica?).
- não estou chateada. ando com raiva dele.
- e achas que foi boa ideia termos entrado nisto com essa raiva toda?
- não. sei lá! - suspirou profundamente, afundou-se nos lençóis apesar do calor.
- ok.

calei-me, não entendi um cu da conversa, nem quis forçar aquele momento. comecei a distrair-me com o som da Sofia a ter um orgasmo, ao fundo, a elevar-se. lembrei-me dos mamilos intumescidos das mulheres durante os orgasmos. "a Juliana tem uns mamilos maiores do que era suposto. mas são giros. é pena isto ir morrer assim. e amanhã?".

- tenho mais ciúmes daquela gorda do escritório do Pedro que lhe escreve os bilhetes.
- o quê? mas já a viste? essa miúda é uma rolha de poço. porque é que tens ciúmes dela?
- porque ela está com o Pedro o dia todo, gosta dele e ele fala-lhe demasiado bem. ela deve ser feliz na sua relaçãozinha com ele.
- mas ele não gosta dela. não podes comparar-te a ela, é ridículo. tu és... epá, és a Juliana!
- nem tentes, deves saber melhor que eu o que eu quero dizer.
- ?? eu? ahah. ouve Juliana, o Pedro adora-te. só sei isso.
- então porque é que está ali a foder a tua namorada? ahah! que horror. estou a brincar ok? bem, não estou não. ahah.

mais grave que isso, a minha namorada estava a fodê-lo a ele. dei por mim novamente a concentrar-me no som vindo do quarto e a dissecar o momento, o que se passou na cabeça da Sofia para conseguir libertar-se da monogamia que sempre advogou contra as minhas conversas libertinas? entregou-se a outro, furou a fronteira das nossas fantasias, sentiria o mesmo que quando se entregava a mim? nesse caso que espaço havia agora para mim? porque é que preciso de perder uma pessoa para lhe dar valor? entendi então que foi o desejo de desejar mais a Sofia que me levou a entrar nisto sem ciúmes. a precisar de vê-la pelos olhos de outro. a Juliana, fofa, leve e fresca, parecia-me agora uma manobra de diversão do meu subconsciente e um desastre. a minha namorada fazia todo o sentido em mim, não outra.

a minha bedmate não falava há algum tempo, adormeci ao som do segundo orgasmo da Sofia, deve ter sido quando me conformei, a meio da noite acordei ou sonhei com um terceiro.

a Sofia

acordei de manhã mais cedo que o habitual. o rabo perfeito da Juliana dormia desinteressante ao meu lado (dispenso descrever a luta vergonhosa entre a minha erecção matinal e o meu cérebro adulto). passei pelo quarto deles e não ouvi nada, silêncio sepulcral. fui tomar banho, demorei-me um bocado, tentei lavar o medo e a ansiedade mas não saiu tudo. quando saí vinham vozes da cozinha.

- bom dia! - a Sofia fitava-me radiante "tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei e que doidos que somos uau!". que merda. fiz um sorriso amarelo, mas derrotado, ela entendeu. tinham os dois ido à mercearia da aldeia e fizeram um pequeno-almoço de hotel. a que horas é que se levantaram, foda-se? havia leite, café, sumo de laranja, pão, croissants, compota, popota, queijo, papaia, kiwis, que raiva! estavam eufóricos. o Pedro olhava-me ainda a pensar que eu tinha comido a Juliana, deu-me um abraço grande, dei-lhe só umas palmadinhas nas costas, tímido.
- então? estamos todos envergonhados, comme il faut?
- a Juliana? acho que o meu namorado deu cabo da tua. ahah!
- ainda está deitada? vou lá ver em que estado a deixaste, porco.
- deixei-a num estado lastimável.

sentei-me. a Sofia estava brilhante, veraneante, bronzeada. não reparei, quando o verão chegou, como ela se andava a vestir bem. estava óptima, sorridente, distraída. quando me viu a observá-la sorriu para mim. houve um compasso de espera em que tudo foi entendido. era isso também que eu estava a arriscar, a cumplicidade insubstituível da Sofia. eles entraram na cozinha, a Juliana passou-me a mão pelo cabelo e beijou-me a cara. depois riu-se envergonhada para a Sofia.

- bom dia! bem! que pequeno almoço orgásmico que os meninos nos fizeram. deve ser sentimento de culpa!
e agarrou-se ao Pedro, este começou a programar o dia, descer o rio de caiaque, a Juliana disse que preferia qualquer coisa mais seca, menos mexida.
a Sofia abraçou-me por trás empoleirando-se nos meus ombros e segredou-me "adoro-te, ainda bem que não vos correu bem, hihi".