23:25
Elô. Estás boa? Quero tomar um café contigo. Diz-me quando, senão decido eu. Bjs. Zé da janela de sacada.
23:35
Wow.. Que moral :) assustas-me um bocado... Mas gostei. Amanhã ao fim da tarde? Na Brasileira?
23:38
Brasileira do Chiado? Convém perguntar, há uma em Coimbra. Podemos encontrar-nos à porta para depois ir a outro sítio, que a Brasileira é uma péssima ideia.
23:41
Não estás em Coimbra?? Lol! Pensei que andavas por aqui, e daí estares a convidar. Nesse caso como é que fazemos?
23:43
tiririririri................... tiririririri...
- ahah estou? isto são horas para ligar para as pessoas?
- estou, então? já voltaste para Coimbra? foste hoje?
- não pá, estava a brincar contigo! qual Coimbra? estás a confundir-me com outra, não tenho nada a ver com Coimbra.
- oh, que estupidez, estragaste-me o estilo, obrigaste-me a ligar-te.
- sim, engate por mensagem tem imenso estilo.
- pareceu-me estar a funcionar.
- foi só um espasmo, já estou em mim. diz lá como é? o que é que tu queres de mim? quem é que conheces de Coimbra?
- não conheço ninguém. quero ver-te à luz do dia, e tu também queres ver-me, esse espasmo denunciou-te. ontem deu para perceber que eras uma rapariga diurna e com coisas para me dizer.
- ahahah, bem, com essa insolência, acho que já te disse tudo o que tinha a dizer.
- já?
- já.
- hhhmmm..
- hhmmm... ahaha
- anda lá, ontem tive que passar noutra festa, que estava uma merda, barzinho cliché no Cais do Sodré, e estive o tempo todo arrependido de te ter deixado sem te conhecer melhor. juro-te. estive quase para voltar a casa da Luísa, mas não ias lá estar e iam ficar todos a perceber a minha desilusão.
- não engataste mais rapariga nenhuma na outra festa, não foi? e agora queres resgatar a que desperdiçaste, pois pois...
- oh, não digas isso, foi essa a ideia com que ficaste de mim?
- estás todo ao ataque. como queres que eu reaja?
- quero que reajas bem, tenho boas intenções. era a festa do meu primo, tive mesmo que lá passar... além disso a nossa conversa não foi nada de engate, estivemos o tempo quase todo a falar de ti. quando muito TU tentaste engatar-me. e conseguiste..
- ahah, agora sim, conversa de engate. bom, estás a ser injusto contigo próprio. correu-te bem ontem, interessaste-me com tua divagação sobre "o período azul do Eça" ahah. e eu nem estava muito virada para intelectuais de almanaque. depois meteste a pata na poça pedindo-me o telefone quando saíste a correr. por falar nisso, como é que conseguiste o meu número verdadeiro?
- pedi à Luísa. ela deve-me uma mulher da minha vida. vá lá, quero mesmo combinar alguma coisa contigo.
- alguma coisa? está bem. pensei que era só café. "alguma coisa" já me parece mais interessante.
- óptimo. amanhã às 17.30 perto da Brasileira. não combines nada para jantar, pode ser que caias nas minhas graças e te leve a um sítio fino, ali para o Martim Moniz, Intendente... fronteiriço. parece-te bem?
- se TU caíres nas minhas boas graças, parece-me bem. caso contrário volto para casa e vou jantar com o meu namorado.
- o quê? ahah. combinadíssimo! estás a falar a sério? espera, não respondas. está combinado, não quero saber mais.
- ok. vamos seguir por esta estrada de terra batida.
- claro que vamos, sem mapa. até amanhã!
- beijo.
marcha lenta para um croissant futuro
subo a Rua Garrett, são 6 e tal da manhã. estamos naquela altura do ano em que às 6 e tal da manhã já não é de noite. aquela altura do ano que dura mais de metade do ano, e a Rua Garrett dura mais de metade do que resta da minha energia de reserva antes de chegar à Bijou do Calhariz que só abre às 7 para comer um croissant folhado com fiambre ou três. a Júlia sobe ao meu lado parando nas montras todas, não são montras de Natal porque nessa altura do ano às 6 e tal da manhã ainda é de noite. ela pára nas montras todas porque são janelas para a sua fuga. nas das lojas de roupa porque são uma janela para outro estilo de vida, nas das agências de viagem por razões óbvias, nas das pastelarias porque tem fome, e parando aí em vez de se apressar até à Bijou, alimenta a alma mais um bocadinho, energia para mais uns segundos, sonha com um mundo de duchesses, em vez de continuar e alimentar o estômago por inteiro com croissants folhados. também pára e deslumbra-se nos multibancos. "o dinheiro não trás felicidade, Júlia" pois não, somos tão felizes. e ela vê-se ali, num futuro criteriosamente construído desde a infância, nas montras de brinquedos.
são 6 e tal quase 7 e tenho que interromper a marcha lenta e penosa de cada vez que percebo que deixei alguém para trás, a cada 5 metros de fachada pombalina romantizada, romance aos molhos, e vejo-a absorta no seu exercício de expansão interior, da mente e da fantasia de vida, fantástica nesta luz leitosa da manhã em Lisboa baixa, mesmo com os olhos semicerrados do álcool barato e caro do Grémio Lisbonense em fim de ciclo, princípio de século. a luz do dia e do futuro faz-lhe bem, fica bonita e promissora.
- nunca te disse mas às vezes apetece-me partir-te a cabeça numa montra - ou entre montras, na parede. ela acorda, faz um esgar sorridente e andamos mais uns metros.
- temos dinheiro?
- temos pouco, queres levantar?
ora merda, não queria quebrar-lhe a fantasia do multibanco coitada, chegar a vias de facto é estragar o clima que cresceu entre eles, vai procurar esticar o momento, enfiar o cartão todo, muito devagar, procurar o ponto nanométrico em que a máquina se passa da cartola e lhe puxa o cartão à bruta, os dedos que o seguram são puxados a roçar a ranhura no último sopro de tesão desse amor maquinal. carrega na tecla 5 para um multibanco falante (ela adora fazer esse número de sonsa e submissa) que lhe diz "o seu saldo não lhe permite concluir a nossa relação". um gajo giro que passa nesse momento atrás de nós ri-se dela e com ela, e ela excita-se toda, a parafílica, reconheço-lhe os mamilos através da camisola leve, reconheço-lhe os lábios a avermelhar e o rabo a alçar, a convidar. fez de propósito, esta fantasia sexual de fazer figuras tristes dispensa-me, até me exclui fortemente, fico a vê-la dançar o tango obtuso com o transeunte de barbas que vai entrar na sua próxima masturbação, e continuo a perdê-la lentamente, todos os dias de manhã, em todas as montras. é o futuro perdido que a chama.
são 6 e tal quase 7 e tenho que interromper a marcha lenta e penosa de cada vez que percebo que deixei alguém para trás, a cada 5 metros de fachada pombalina romantizada, romance aos molhos, e vejo-a absorta no seu exercício de expansão interior, da mente e da fantasia de vida, fantástica nesta luz leitosa da manhã em Lisboa baixa, mesmo com os olhos semicerrados do álcool barato e caro do Grémio Lisbonense em fim de ciclo, princípio de século. a luz do dia e do futuro faz-lhe bem, fica bonita e promissora.
- nunca te disse mas às vezes apetece-me partir-te a cabeça numa montra - ou entre montras, na parede. ela acorda, faz um esgar sorridente e andamos mais uns metros.
- temos dinheiro?
- temos pouco, queres levantar?
ora merda, não queria quebrar-lhe a fantasia do multibanco coitada, chegar a vias de facto é estragar o clima que cresceu entre eles, vai procurar esticar o momento, enfiar o cartão todo, muito devagar, procurar o ponto nanométrico em que a máquina se passa da cartola e lhe puxa o cartão à bruta, os dedos que o seguram são puxados a roçar a ranhura no último sopro de tesão desse amor maquinal. carrega na tecla 5 para um multibanco falante (ela adora fazer esse número de sonsa e submissa) que lhe diz "o seu saldo não lhe permite concluir a nossa relação". um gajo giro que passa nesse momento atrás de nós ri-se dela e com ela, e ela excita-se toda, a parafílica, reconheço-lhe os mamilos através da camisola leve, reconheço-lhe os lábios a avermelhar e o rabo a alçar, a convidar. fez de propósito, esta fantasia sexual de fazer figuras tristes dispensa-me, até me exclui fortemente, fico a vê-la dançar o tango obtuso com o transeunte de barbas que vai entrar na sua próxima masturbação, e continuo a perdê-la lentamente, todos os dias de manhã, em todas as montras. é o futuro perdido que a chama.
Presentation
In the global context of obsolete urban port renewal, it has been a tacit presumption, since the early pioneer North American operations, that the suddenly available large areas of privileged contact with the water were to constitute a benefit for an entire city's population. This laudable intention has the side effect, in certain planning approaches, of generally excluding the simple local integration which would specifically favor the neighboring populations, instead resulting in entirely new urban areas, autonomous in fruition and accessibilities.
Of course the two urban scales, the city and the neighborhood, are not incompatible. The urban interaction between waterfront public spaces and the surrounding districts could be accomplished through ordinary urban design strategies, reconciling urban fabrics and morphological elements of the two confining urban spaces. One can, for instance, understand the relation between the city of Lisbon and its river throughout the centuries by analyzing the city's urban structure. Its riverside area renewal could undergo the anchoring to historical urban systems and / or bring emphasis to specific site characteristics. Quite consensual, this has been addressed in several studies for Lisbon's waterfront.
However, a big part of the challenge of integrating waterfronts in a funded urban structure resides on the suppression of physical barriers. The pombaline plan for Cais do Sodré (an urban wharf area), regardless of the distant conjuncture, counts a good number of integration practices, including the suppression of urban hurdles. After all, foda-se, urban design is a timeless subject and its adaptation to current circumstances relies only on the pooling of interests.
Of course the two urban scales, the city and the neighborhood, are not incompatible. The urban interaction between waterfront public spaces and the surrounding districts could be accomplished through ordinary urban design strategies, reconciling urban fabrics and morphological elements of the two confining urban spaces. One can, for instance, understand the relation between the city of Lisbon and its river throughout the centuries by analyzing the city's urban structure. Its riverside area renewal could undergo the anchoring to historical urban systems and / or bring emphasis to specific site characteristics. Quite consensual, this has been addressed in several studies for Lisbon's waterfront.
However, a big part of the challenge of integrating waterfronts in a funded urban structure resides on the suppression of physical barriers. The pombaline plan for Cais do Sodré (an urban wharf area), regardless of the distant conjuncture, counts a good number of integration practices, including the suppression of urban hurdles. After all, foda-se, urban design is a timeless subject and its adaptation to current circumstances relies only on the pooling of interests.
o sonho sul-americano
o Chico entrou em cena. fui eu que o chamei após vasculhar uma biblioteca digital esquizofrénica deixada ingenuamente ao lado da mesa das bebidas. ouve-se ao fundo uma alcateia de flautas e coros impolutos, o Chico, um pouco usado, move-se no seu tom de pecador arrependido que não parte um prato, mas se o ouvirmos com atenção, está a partir o serviço inteiro, chato. não estão a ouvi-lo, evidentemente, pérolas a porcos pá.
eu estava há pouco a servir-me de um Madeira quando o Baduel se aproximou rindo alarvemente e mo tirou da mão. meteu a mão por cima do meu ombro e disse "obrigadinho, ehehehe" ehehe... "eheheheh, tu és um gajo do caralho pá, julgas que eu não te topo, andas aqui nestas festas, sempre na refunda e tudo acontece como tu decides, em silêncio, és rato!"
o Baduel por esta altura já chega às festas bêbado, faz-me esta misturada de ofensas e elogios, eu condescendo com um sorriso enquanto me sirvo noutro copo.
"então, sempre vais para o Brasil, Baduel?" ele baixou o tom alarve para o tom de quem está envolvido em negócios de foyer de centro de congressos "vou pá, está tudo a correr nesse sentido, estamos a tentar resolver algumas incompatibilidades com o meu passaporte, é capaz de ser preciso fazer uns pagamentos a uns duendezinhos, sabes como é este país miserável" sei, claro. "mas queria ver se daqui a dois meses o mais tardar ia lá pousar, já tenho andado em contactos com pessoal amigo que está lá, aquilo é bom, está a crescer! e depois pronto, as brasileiras têm uma moral sexual diferente... ahahah!"
olhei a cor do Justino's, não é claramente a minha bebida, até pode ser uma zurrapa inqualificável que eu bebo com o mesma alegria ignorante. o Baduel emborcou o seu de penalti, também não deve ser a bebida dele.
"e tu? já sei que foste pai, isso é que é coragem" esperei calado a sua próxima frase acerca de si próprio "a Rita também começou a falar em bebés e eu tive que dar-lhe guia de marcha, que para mim bebés ainda são muito bonitos no colo dos outros eheh! também já estava um bocado farto da relação, a Rita é muito querida mas não era mulher que conseguisse agarrar este bebé".
o Baduel foi expulso da vida da Rita Janeiro há um ano, e se casado fazia vida de solteiro, solteiro andou a arrastar-se em choros convulsivos e cenas de pancadaria nas noites fundas do eixo comemorativo 24 de Julho - Cais do Sodré, não queria, não entendia as razões dela, não era suposto haver vida sem a Rita, sem a Rita lá em casa à espera quietinha. meses disto, de cada vez que se perguntava pelo Baduel alguém dizia "fritou". foi-se perdendo o interesse por ele, pensando que como uma inevitabilidade um dia iria tratar-se, e chegaria aos ouvidos de todos que tinha voltado do inferno. na verdade nunca chegou, toda a gente lhe cola a sua história confrangedora de quem foi destruído por um acontecimento banal, por outro ser humano sem intenção, e continua hoje a pintar-se como se as pessoas não falassem, não pensassem, não tivessem olhos. como se aquilo que lhe sai taxativamente da boca fosse o suficiente para impedir a formulação da opinião outros. há pessoas que vivem essa fantasia imbecil. pelo menos voltou a aparecer em eventos sociais, já ninguém lhe fala no tema, mas parece que continua tudo ali a boiar. a Rita se bem percebi renasceu. cruzei-me com ela ocasionalmente, sorria, voltou a sair de casa, a conhecer pretendentes com projectos de vida, emigrou para o Brasil com um gajo qualquer. oh wait...
pois. nada que o exagero da libido e da euforia não mascare.
"agora tenho que ir ali conhecer aquelas meninas Coachella ao pé da palmeira, que aqueles calçõezinhos fazem-me comichão ao whiskey" isso não era whiskey caralho "já dizia o meu avô, perna fina foda grossa!" vai Baduel, vai com Deus cara.
eu estava há pouco a servir-me de um Madeira quando o Baduel se aproximou rindo alarvemente e mo tirou da mão. meteu a mão por cima do meu ombro e disse "obrigadinho, ehehehe" ehehe... "eheheheh, tu és um gajo do caralho pá, julgas que eu não te topo, andas aqui nestas festas, sempre na refunda e tudo acontece como tu decides, em silêncio, és rato!"
o Baduel por esta altura já chega às festas bêbado, faz-me esta misturada de ofensas e elogios, eu condescendo com um sorriso enquanto me sirvo noutro copo.
"então, sempre vais para o Brasil, Baduel?" ele baixou o tom alarve para o tom de quem está envolvido em negócios de foyer de centro de congressos "vou pá, está tudo a correr nesse sentido, estamos a tentar resolver algumas incompatibilidades com o meu passaporte, é capaz de ser preciso fazer uns pagamentos a uns duendezinhos, sabes como é este país miserável" sei, claro. "mas queria ver se daqui a dois meses o mais tardar ia lá pousar, já tenho andado em contactos com pessoal amigo que está lá, aquilo é bom, está a crescer! e depois pronto, as brasileiras têm uma moral sexual diferente... ahahah!"
olhei a cor do Justino's, não é claramente a minha bebida, até pode ser uma zurrapa inqualificável que eu bebo com o mesma alegria ignorante. o Baduel emborcou o seu de penalti, também não deve ser a bebida dele.
"e tu? já sei que foste pai, isso é que é coragem" esperei calado a sua próxima frase acerca de si próprio "a Rita também começou a falar em bebés e eu tive que dar-lhe guia de marcha, que para mim bebés ainda são muito bonitos no colo dos outros eheh! também já estava um bocado farto da relação, a Rita é muito querida mas não era mulher que conseguisse agarrar este bebé".
o Baduel foi expulso da vida da Rita Janeiro há um ano, e se casado fazia vida de solteiro, solteiro andou a arrastar-se em choros convulsivos e cenas de pancadaria nas noites fundas do eixo comemorativo 24 de Julho - Cais do Sodré, não queria, não entendia as razões dela, não era suposto haver vida sem a Rita, sem a Rita lá em casa à espera quietinha. meses disto, de cada vez que se perguntava pelo Baduel alguém dizia "fritou". foi-se perdendo o interesse por ele, pensando que como uma inevitabilidade um dia iria tratar-se, e chegaria aos ouvidos de todos que tinha voltado do inferno. na verdade nunca chegou, toda a gente lhe cola a sua história confrangedora de quem foi destruído por um acontecimento banal, por outro ser humano sem intenção, e continua hoje a pintar-se como se as pessoas não falassem, não pensassem, não tivessem olhos. como se aquilo que lhe sai taxativamente da boca fosse o suficiente para impedir a formulação da opinião outros. há pessoas que vivem essa fantasia imbecil. pelo menos voltou a aparecer em eventos sociais, já ninguém lhe fala no tema, mas parece que continua tudo ali a boiar. a Rita se bem percebi renasceu. cruzei-me com ela ocasionalmente, sorria, voltou a sair de casa, a conhecer pretendentes com projectos de vida, emigrou para o Brasil com um gajo qualquer. oh wait...
pois. nada que o exagero da libido e da euforia não mascare.
"agora tenho que ir ali conhecer aquelas meninas Coachella ao pé da palmeira, que aqueles calçõezinhos fazem-me comichão ao whiskey" isso não era whiskey caralho "já dizia o meu avô, perna fina foda grossa!" vai Baduel, vai com Deus cara.
do latim 'carne vale'
- estes hambúrgueres estão bons!
- estão, não estão?
- fizeste como?
- só têm sal.
- só sal?
ela respondeu-me com o silêncio. tinha um sorriso lascivo, lambuzava-se com a carne alta e mal passada. a acompanhar comíamos um arroz thai dos dela (meio queimado) inundado dos sucos da carne, e um escabeche de pimento vermelho assado. o meu puto de 2 anos enchia a boca de pedaços da carne tostada que eu próprio lhe cortei previamente, gordura escorria-lhe pelos dedos das mãos, garfo e colher já derrotados ao lado do prato, delirava. "os habugas 'tão bons mamã", dizia o papagaiozinho.
- desculpa, mas há qualquer coisa nestes hambúrgueres, na carne?
sorriu sem me olhar.
- é carne alentejana.
- ..? "Carne Alentejana"?
- sim.
- do teu ex?
- sim.
finalmente o sorriso aberto e vitorioso, o segredo perverso atirado à minha cara encharcado em sangue da carne cozinhada. decidiu experimentar a qualidade do produto do homem, ao fim de anos de comentários pontiagudos acerca do seu sucesso, do seu empreendedorismo. e eu? porque é que eu estava a alimentar a qualidade de vida daquele animal, deixando-o alimentar-me a mim?
- isso é assim?
- é.
- e estás a dar carne dele ao nosso filho?
- não é boa?
em tempos a minha mãe contou-me que fez uns bifes de carne de cavalo para o meu pai, a quem só a ideia dava vómitos (carne de cavalo esteve na moda durante cerca de 15 dias na década de 80). ele, não percebendo, não reclamou, alambazou-se e não direi que felicitou a minha mãe porque não era esse o seu modus operandi, digamos assim. há qualquer coisa de conspirativo, de perfídia, em cozinhar para um homem algo que ele objectaria se soubesse no que consistia. o casamento dota silenciosamente as cozinhas de um princípio de confiança cega, pode conquistar-se o outro pelo estômago e também se pode matá-lo. eu experienciei pelo estômago a deslealdade, a traição, a fraude, a dor! na forma de hambúrguer.
- estão, não estão?
- fizeste como?
- só têm sal.
- só sal?
ela respondeu-me com o silêncio. tinha um sorriso lascivo, lambuzava-se com a carne alta e mal passada. a acompanhar comíamos um arroz thai dos dela (meio queimado) inundado dos sucos da carne, e um escabeche de pimento vermelho assado. o meu puto de 2 anos enchia a boca de pedaços da carne tostada que eu próprio lhe cortei previamente, gordura escorria-lhe pelos dedos das mãos, garfo e colher já derrotados ao lado do prato, delirava. "os habugas 'tão bons mamã", dizia o papagaiozinho.
- desculpa, mas há qualquer coisa nestes hambúrgueres, na carne?
sorriu sem me olhar.
- é carne alentejana.
- ..? "Carne Alentejana"?
- sim.
- do teu ex?
- sim.
finalmente o sorriso aberto e vitorioso, o segredo perverso atirado à minha cara encharcado em sangue da carne cozinhada. decidiu experimentar a qualidade do produto do homem, ao fim de anos de comentários pontiagudos acerca do seu sucesso, do seu empreendedorismo. e eu? porque é que eu estava a alimentar a qualidade de vida daquele animal, deixando-o alimentar-me a mim?
- isso é assim?
- é.
- e estás a dar carne dele ao nosso filho?
- não é boa?
em tempos a minha mãe contou-me que fez uns bifes de carne de cavalo para o meu pai, a quem só a ideia dava vómitos (carne de cavalo esteve na moda durante cerca de 15 dias na década de 80). ele, não percebendo, não reclamou, alambazou-se e não direi que felicitou a minha mãe porque não era esse o seu modus operandi, digamos assim. há qualquer coisa de conspirativo, de perfídia, em cozinhar para um homem algo que ele objectaria se soubesse no que consistia. o casamento dota silenciosamente as cozinhas de um princípio de confiança cega, pode conquistar-se o outro pelo estômago e também se pode matá-lo. eu experienciei pelo estômago a deslealdade, a traição, a fraude, a dor! na forma de hambúrguer.
a serotonina ou o raio que o parta na depressão pós climáctica
- dizeis-me pois que após o coito te odeias..
- não direi propriamente que me odeio, mas certamente odeio as minhas decisões, nomeadamente ter praticado o coito contigo.
- que desagradável, apenas comigo isso acontece milord?
- não, certamente que não. acontece-me com qualquer espécime com quem o pratique. inclusivamente comigo próprio. parece-me uma possidónia perda de tempo.
- dirás então que é uma decisão errada, o sexo?
- não posso dizê-lo antes de o praticar, já que antes do orgasmo não formulo este raciocínio de todo. pelo contrário apenas sinto que preciso de vir-me para o mundo ficar equilibrado. só nos 5 minutos seguintes a total independência do indivíduo me é clara como água gaseificada (provavelmente por isso lhe chamam período refractário). depois volta tudo ao normal, a carência, a subordinação, a objectivação, as mamas.
- as mamas voltam ao normal?
- enfim, a maioria delas.
- não direi propriamente que me odeio, mas certamente odeio as minhas decisões, nomeadamente ter praticado o coito contigo.
- que desagradável, apenas comigo isso acontece milord?
- não, certamente que não. acontece-me com qualquer espécime com quem o pratique. inclusivamente comigo próprio. parece-me uma possidónia perda de tempo.
- dirás então que é uma decisão errada, o sexo?
- não posso dizê-lo antes de o praticar, já que antes do orgasmo não formulo este raciocínio de todo. pelo contrário apenas sinto que preciso de vir-me para o mundo ficar equilibrado. só nos 5 minutos seguintes a total independência do indivíduo me é clara como água gaseificada (provavelmente por isso lhe chamam período refractário). depois volta tudo ao normal, a carência, a subordinação, a objectivação, as mamas.
- as mamas voltam ao normal?
- enfim, a maioria delas.
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