- mamas?
- sim, tamo.
levantei-me e saltei na cama em demonstração de vitória, todo nu, a pila a abanar. ela ria-se, tentava agarrar-me a pila e chamava-me puto, mas acabou por se levantar também e saltar comigo, perdida de riso, as mamas a saltar com ela, nua e sem vergonha. agarrou-me e tentou fixar-me, beijou-me, mordia-me os lábios e fazia barulhos salivados.
- não te vás embora..
- tenho que ir.
- fica cá hoje.
- não posso.
- fica.
- não.
a televisão e o candeeiro iluminavam a sala ao lado. o quarto onde estávamos era iluminado pelo candeeiro de rua. a sala era do tamanho do meu quarto de criança e o quarto era do tamanho de uma casa de banho normal. o candeeiro parecia uma lanterna e a televisão parecia um telemóvel. tudo era à escala dela. menos eu.
- és tão grande.
- não sou nada, estou na média europeia.
- então eu é que sou pequena. às vezes sinto-me uma criança ao pé de ti.
- não digas isso que me excitas! - agarrei-a, virei-a de costas e simulei uma canzana de pé contra a parede.
- ahahah, que porco! larga-me, tarado!
a luta simulada dela pela liberdade era-me desconfortável, dava-me a impressão de perda de tempo. era a prazo, o relógio não parava. o prazo deprimia-me, o rabo dela excitava-me, tão bom. sou tão incapaz. não controlo o meu próprio corpo. deitei-a, deitei-me em cima dela. mas ela estava sem cara de sexo, com cara de caso. saí e deitei-me de lado a mexer-lhe nas costas. esperei que ela falasse.
- quando é que te vais embora?
- agora.
- não... quando é que vais para lá?
- ah... na 4a. não esta, na outra.
- quem é que me vai proteger?
- não sei... a polícia de choque... ou o teu namorado...
o silêncio cobriu o quarto como a morte de um caso e de um país. ela infeliz, eu culpado. envergonhado por abandonar tudo e por não ter resposta para nada, estar a deixar-me levar por decisões de outro tempo e estado de espírito. ela sabia que era inevitável. eu sabia que era mais grave que isso, que era apenas uma fuga disfarçada de resolução. podia decidir ficar e lutar por alguma coisa, decidir-me pelo que lutar, decidir-me. o silêncio, foda-se! a televisão cheia de cor, a casa dos segredos, a vanessa e o nuno comiam-se. o cu da petra mostrava-se, tão bom. distraí-me sem som.
- posso ir contigo?
- podes! claro, já te disse que sim.
- claro que não posso. a minha mãe, o joão. não posso.
- o joão? não o largavas para vir comigo?
o silêncio e a expressão irritada por ter que ouvir perguntas parvas. levantei-me para me vestir, não porque achasse que ela devesse largá-lo, mas para tentar andar mais depressa que o silêncio dela e mostrar que não esperava resposta. obviamente funcionou ao contrário.
- não fiques chateado.
- não fico chateado, honestamente. tenho é que ir embora.
- vá lá, eu amo-te, tu sabes isso! não me peças provas de amor!
- eu sei - abracei-a com as calças ainda a meio das pernas, como um pinguim. o toque na pele dela corrigia-me os preconceitos de verbalização das coisas certas - eu também te amo, não preciso que largues ninguém. não temos 20 anos.
- fica cá hoje - os olhos aguaram.
- não posso.
- fica...
quando voltar já isto desmoronou tudo.