era a música de Enapá que tocava no bar. na casa de banho conseguia ouvir-se toda a sala a cantar em uníssono, bêbados e desafinados. as mulheres cantam sempre mais alto e embebedam-se com pouco. atrás de mim estava um gajo que não se calava a falar da gaja do balcão. em urinóis eu não consigo mijar com alguém atrás de mim, sobretudo se ele não se cala e está cambaleante a mandar-me encontrões. daí a pouco iria notar que eu estava ali há demasiado tempo.
- então amigo? isso vai? está difícil..
- estou a masturbar-me. fala-me mais da gaja do balcão.
- heisch... que nojo, estás a bater uma? fóda-ssssss...
ao falar com bêbados é preciso avaliar bem o tempo disponível para assimilação de uma piada, se não houver tempo de a compreender, ou de lha explicarmos, ele vai ser literal e básico e vai lá para fora contar aos amigos. foi o que aconteceu. mas finalmente consegui mijar. ao sair, estava ele com mais 2 amigas e 3 amigos "Foi este!" a olhar-me com cara de nojo, gozo e desprezo. uma das miúdas sorriu para mim. lavei daí as minhas mãos e atirei-me para a multidão que continuava a alimentar a sua necessidade de Yupiais na maioridade, uma rapariga de buço que momentaneamente ficou presa na corrente humana que me levava gritou-me ao ouvido Se tu não foderes comigo Não foderei contigoooo!.. sorri amarelo e ela tentou beijar-me, desviei a cara mas ainda senti a sua língua áspera de álcool passar-me pelos lábios, como me acontecia com o cão do meu tio quando eu era puto.
consegui chegar à porta mais ou menos ileso. cá fora estava um gajo que me entregou uma imperial.
- então, foste cagar? ahah
tirei um cigarro, acendi-o.
- tu és o...?
- Pedro. sou o Pedro. tu és o Zé, não é?
- não, deves estar a confundir-me.
- ...?
- estou a brincar.
- ahahah. pois, isto está complicado, muito álcool, muito álcool. ahahah.
ele era o Pedro, irmão do Miguel, o liberal e o absolutista. nunca entendi como tantos gays passam despercebidos para a maioria das pessoas, talvez porque não passam um jantar a tentar fodê-los com os olhos do outro lado da mesa, sou eu sempre o feliz contemplado. o Miguel é um gajo do atelier com quem nunca falo, excepto daquela vez que, chegado mais cedo da hora de almoço, o apanhei a masturbar-se na casa de banho, que não tem fechadura, e passado 20 minutos veio ter comigo todo vermelho "olha, isto fica entre nós, ok?" - "não, isso fica só para ti, mesmo". o seu irmão, o Pedro, tem um ar mais sociável e mais prevenido, mas é isto, engraçou comigo do outro lado da mesa e foi o resto da noite a patinar num beco que não tem saída, muito menos entrada.
- beeem, isto está mesmo cheio, parece o Santo António.
- pois é.
- tu vieste para o Santo António este ano com o meu irmão?
- não, vim com uns amigos.
- ah pois, é que ele também veio, podiam ter vindo juntos.
- não me dou com o teu irmão.
- nem eu.
- alguém se dá?
- a namorada dele, essa vaca. ahaha.
- ele tem namorada? muito me surpreende. pensei que não gostasse de seres humanos.
- ela não é um ser humano, é uma vaca! odeia-me. homofóbica de merda.
ri-me condescendentemente, para ele entender que não era preciso usar subterfúgios para me transmitir uma ideia óbvia. dei por mim a exagerar os meus maneirismos de macho latino, quase escarrei para o chão, para traçar um limite no engate. ele riu-se ainda mais. alguma barreira na conversa se quebrou com isso.
aproximou-se daí a pouco a Bli, a geek do atelier, uma miúda possante, que quase parece gorda por causa das mamas, cada uma do tamanho da minha cabeça. é gira, mas sempre me pareceu uma universitária recém-urbana, alguém que junta o ingénuo e o devasso.
- o que é que os meus meninos estão aqui a segredar? seus malandros!
eu não estava a segredar com o Pedro e não queria de todo passar essa ideia numa noite de copos tão sexualmente promissora, daí que a pressa em esclarecê-lo me tenha retirado momentaneamente a capacidade de filtrar o pensamento.
- estávamos a falar das tuas mamas.
- AAH! seu porco, tu é que deves ter puxado a conversa, porque o meu Pedrinho está interessado em bolinhas mais pequenas. ahahah!
- olha-me esta! eu gosto é de bolinhas grandes! ahaha!
ah, ah, ah, estavam os dois muito divertidos e a Bli tinha notoriamente maior capacidade de encaixe do que eu pensei, isso tornou-a interessante e a cada golo das minhas sucessivas imperiais mais me parecia uma deusa da fertilidade, voluptuosa, radiosa, inspiradora. falámos todos bastante tempo acerca da sexualidade de cada um, tema que me interessa muito depois do primeiro trago de álcool. afinal o Pedro até tinha tido várias namoradas antes de entender o que queria realmente e a Bli não era propriamente um rato de biblioteca, mas antes uma rata muito bem sucedida no amor de ocasião, tinham ambos a libido de um presidiário ou dois, por isso a conversa foi conduzida, controlada, talhada por mim. conduzi-a descontroladamente no sentido de acabarmos os três em casa dele, "um t1 em Alfama com um pátio reservadíssimo onde instalei uma banheira de grupo para as noites em que faço mais do que um amigo" (sic), ela morava numa "vivenda em Caneças", a escolha foi simples.
não sei porque me coloco nestas situações, claramente a alma do acontecimento era eu, a fazer a ponte entre os dois, e atirei-me, mesmo sendo óbvio que qualquer um deles queria apenas foder a ponte. no fundo, como sempre, queria ver até onde conseguia levar aquilo, algo novo, com a bênção de algo já visto, mesmo sem ter idealizado uma forma airosa de me pôr a arder caso tudo deixasse de ter piada ou me passasse a bebida. em linguagem futebolística chama-se a isto "correr mais que a bola". a verdade é que o Pedro era um gajo fixe, já me tinha surpreendido com algumas importantes definições de cultura e personalidade que me eram próximas, a ter alguma experiência com outro gajo, já tinha pensado nisto, que fosse alguém assim. tinha também feito uma piada qualquer com "Lamb Crica" quando mencionámos o jantar no restaurante indiano, e assumi imbecilmente que aquilo fosse para me descansar em caso de sexo a três. e descansei.
o álcool já ia alto, fomos todos para casa dele, não sem antes passarmos por uma rua escura para mijar. eu e o Pedro trazíamos bebidas na mão, assim, a Bli segurou nas nossas pilas, uma de cada lado, gozou com o tamanho da minha, ríamos todos às gargalhadas, sacudiu-as embora o Pedro não tivesse bem acabado de mijar, lançando pingos quentes sobre todos nós e talvez nas bebidas e rimo-nos ainda mais. fiz uma piada com o facto de não conseguir mijar com alguém atrás de mim, mas conseguir fazê-lo com alguém a segurar-me na pila.
- podes passar a pedi-lo aos teus companheiros de urinol.
rimos muito. no táxi para Alfama fui eu no meio, comecei a apalpar uma mama da Bli com as duas mãos, ela agarrou-me numa delas e levou-a ao colo do Pedro. não a mexi, congelado, e tentei antes concentrar-me no tamanho daquela maravilha da engenharia da natureza que era uma mama da Bli. grande e rija, como a minha pila ficou quando o Pedro a agarrou. isto porque inicialmente pensei que era a mão da Bli. o taxista parou o carro de repente e disse que na presença de Jesus não admitia deboche, muito menos deboche homem-sexual. claro, para segurar um crucifixo gigante, era necessário um retrovisor do tamanho da minha televisão, embora Jesus não se tivesse manifestado enquanto eu ainda estava sequiosamente a sondar a Bli por leite materno. acalmámos ou disfarçámos melhor, chegámos a casa do Pedro já eu tinha as cuecas da Bli nos dentes.
foi tudo muito rápido até eu estar deitado no sofá, com a Bli e o Pedro a desapertar-me as calças enquanto se beijavam. o Pedro mais uma vez agarrou-me qualquer coisa e eu tentei ganhar tempo, tinha que ir mijar uma última vez. na casa de banho tive uma tontura com o papel de parede, tinha umas cores berrantes em cornocópias, parecia estar a mexer ou a gritar comigo, deu-me uma náusea e ajoelhei-me na sanita a vomitar. o frio da sanita foi o abraço possível naquele momento, e assim fiquei algum tempo, até que adormeci no tapete felpudo azul-cueca que destoava naquela casa de banho decorada como a sala de estar da minha tia.
acordei sem noção do tempo que estive deitado, não me pareceu muito. levantei-me, lavei a boca com um bocado de pasta de dentes bochechada, e voltei a sentir-me acordado, revigorado. ainda estava a segurar nas cuecas azuis da Bli, lembrei-me das mamas dela, que estariam elas a fazer? não entendo o que se passa quando bebo e durmo um bocado, acordo sempre com uma erecção pétrea, difícil de desfazer devido a alguma insensibilidade ebriosa. não obstante, a testosterona substitui-me o sangue e obriga-me a procurar desfazê-la, animalmente, tudo me excita, o Pedro já me excitava, talvez ele como homem de festas que constantemente acabam em sexo soubesse melhor como lidar com este problema banal, talvez me maravilhasse com uma técnica apuradíssima e uma reveladora omnisciência do meu caminho para o orgasmo, a pila dele seria maior que a minha? finalmente imaginava um verdadeiro threesome, em que participaria por inteiro, com a substancial Bli a suplicar ser devorada e usada e suada pelos dois. queria beijá-la à frente dele, queria que ele a beijasse, como a beijava contra-senso há bocado na sala. receei que a espera lhes tivesse refreado o ímpeto e estivessem a dormir, teria que os despertar outra vez, sentia-me capaz disso. a sala estava às escuras, vinha apenas um som maquinal de um corredor, um som bastante claro, segui-o e acabei à porta de um quarto com a porta mal encostada. não entrei, lá dentro vi os dois corpos à luz da lua de Lisboa, num movimento continuo, ela estava por cima, perfeita, ondulante, carnal, em vias de descontrolo, ele estava por baixo, algo atlético, com a cara que eu gostaria de fazer durante o sexo, muito cinematográfica. as mãos firmes na anca dela marcavam a cadência, mas permitiam veleidades. a anca dela obedecia, as mãos no peito dele com uma minúcia espásmica, de vez em quando arranhavam-lhe o corpo e aceleravam-lhe o movimento quando a timidez lhe parecia ignóbil face àquele gozo. fiquei ali a observar, estático, desprezado, excitado além do ponto que a minha pele parecia aguentar. o Pedro viu-me, fitou-me uns segundos e ignorou-me, a Bli veio-se, na perdição e no choro próprios de alguém que acaba de descobrir a vida, eu fui-me, para casa, a pé, sem a certeza de qual deles me estava a dobrar a alma de ciúme e euforia.
9 comentários:
Su blog es muy bueno.
Lá está, a ideia que os homens se fazem do threesome vem-lhes dos filmes, na realidade estou convencida de que não saberiam o que fazer com duas mulheres, ou com uma pessoa extra, há sempre um que fica de fora, para alguns é como voltar ao liceu outra vez.
tal como no liceu, só fica de fora quem se mete de fora. caso contrário, é bullying (see what I did there?)
Cada vez que cá venho (que é como quem diz, sempre que há post) penso que tenho que rever uma teoria minha que consiste no facto dos homens não terem jeitinho nenhum para estas coisas dos blogues) asap.
Muito bom, como sempre.
Yes, Calimero, I did.
Filipa, folgo muito em abalar teorias femininas. é isso que me faz andar aqui, não é o dinheiro.
Nawita, essa do Calimero passou perto. but no cigar.
Errr... Ma... Blarrrr... Hum. Cof cof. Errr...
Dois dias depois, ainda só consigo balbuciar.
Puta de história fabulosa. Volto para comentar quando recuperar a fala.
Muito. Bom. Nem acredito que encontrei este blog, lucky me!
só vos posso desiludir.
Para quando venderes o que escreves? Está óptimo!
Enviar um comentário